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28 de abril de 2019

Calendário indígena Kariri-Xocó



Hoje fui presenteado por meu amigo Nenhety com um calendário interessante, rico em cultura e sabedoria. Não foram os nomes indígenas para cada mês que chamou-me a atenção ou os da semana. Foi o calendário nativo, inciado no mês de Junho.
Nenhety é a memória viva da tribo Kariri-Xocó e tudo nele exala a cultura do seu povo. Neste calendário, ele diz:
"O homem branco nos deu nomes para nos dividir e tentou eliminar nossa Cultura e religiosidade. Mas sobrevivemos e temos o dever de restaurar a nossa unidade Cultural e Tradições, temos que voltar a comemorar o nosso ano novo que é com o nascimento das plêiadas, no hemisfério Sul, que é por volta do dia 5 de junho.
O calendário Indígena varia pelos contrastes climáticos, geográficos, culturais ou por fatos históricos. Pode ser formado pela realidade local de cada povo".

Vejam na imagem o calendário indígena na ordem do ano gregoriano (lunar), os dias da sema e na ordem do ano nativo.



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24 de maio de 2015

Rapadura vermelha

Nhenety

Por Nhenety Kariri-Xocó
Guardião da Tradição Oral

Somos índios evoluídos sim. Estamos aqui há muito tempo, antes de Colombo chegar na América. E como todos os povos, desde o início de nossa civilização, vivemos evoluindo. Com a invasão, fomos forçados a um grande processo evolutivo cheio de sofrimentos. No Nordeste temos 500 anos de resistência e ainda contamos nossa história.

Foram feitos aldeamentos para diminuir nossos territórios, foram implantados colégios jesuíticos para tirar nossa língua, para impor uma religião, mudando nossa estrutura sociocultural. Se nossas casas estavam dispostas em círculos, impuseram as linhas retas. Se vivíamos em uma grande maloca coletiva, os padres botaram um casal por casa. O índio cuidava de sua subsistência e foi forçado a trabalhar para a Igreja, para a acumulação de bens. Quando o índio precisava de algum produto ia na floresta e colhia, depois foi obrigado à força a ir além de seu limite físico e muitos morreram carregando bens para outros, tirando além do certo. O novo sistema trouxe a devastação da Natureza e a extinção de etnias, de animais e de vegetais.

Uma comunidade indígena expressava sua potencialidade quando tinha mais de 300 pessoas, cada indivíduo com sua função social no coletivo e, quando os invasores exterminavam noventa por cento da população de uma etnia, os trinta indígenas sobreviventes não podiam mais expressar a sabedoria dessa cultura, ficando desestruturados. Daí a estratégia do invasor era juntar em um espaço só trinta sobreviventes de uma etnia, com vinte de outra e dez de outra; confinados a um lugar só, criando uma nova confusão, homogeneizados através da imposição do uso da língua portuguesa, suprimindo todas as religiões. Os indígenas ou morriam na luta ou morriam lentamente na ditadura do aldeamento, morrendo culturalmente.

Um amigo Kiriri me ensinou assim: A partir da colonização, nós indígenas não mais vivemos mas SOBREVIVEMOS. O índio que vive está em harmonia com a Natureza. Mas hoje, nós só sobrevivemos; temos pouca terra; o sistema nos incomoda; continuam tirando nossas terras, nossa educação tradicional, nossa religião. Índio e Terra são indivisíveis. Terra é Mãe, é Avó, é família, é tudo. Tudo isso está vivo. Temos nossa memória viva. A terra também tem sua memória. Na terra está registrado tudo. Se escavar vai encontrar ponta de espadas por cima da ponta da flecha, cacos de barro de nossos antepassados, urnas funerárias de cerâmica quebradas e as moedas do invasor.
Nós indígenas passamos todas as fases do Brasil; desde antes dos espelhinhos e da tinta vermelha... Foram muitas as estratégias para nós indígenas deixarmos de ser nós mesmos e funcionarmos como uma peça do capitalismo. A educação foi e é usada para isso.

Nos primeiros tempos da colonização foram colocados os povos diferentes, de culturas e línguas diferentes. Cada povo tinha sua educação originária de caráter natural. Essa educação era um sistema adaptativo; adaptado à Natureza. Os indígenas viviam sempre em harmonia com a Natureza; em sintonia com a Mãe Terra, até os colonizadores instalarem um novo sistema. Tiraram os caciques e colocaram os capitães-mor; tiraram os Pajés e botaram os padres. Fizeram o plano para a retirada dos conhecimentos dos povos e implantar uma nova mentalidade: a da produção capitalista. Primeiro, destruíram a mata atlântica para vender a tinta vermelha na Europa; depois, colocaram a cana de açúcar para produzir açúcar para Europa. Substituíram a mata por cana e botaram índios como escravos. A essa fase do Brasil eu chamo de Memória da Rapadura; que veio logo depois da Memória das miçangas e antes da memória das pedras brilhantes.

Contato:

nhenety.indiosonline@gmail.com
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19 de março de 2015

A Pintura indígena

Por Josemar Pires
 
Embora chame muita atenção A Pintura Indígena representa mais que simples traços e formas, o Corpo Representa uma Tela onde são guardados segredos e Experiências vivenciadas pelos indivíduos e são refletidos perante os demais, que lhe proporciona Respeito e Reverencia.

 A mulher usa na maioria das vezes Desenhos em Forma de Círculos, que Representa a Fertilidade, Em Reverencia a Mãe Terra que nos Proporciona Todos Os meios necessários para nossa sobrevivência e é também Pelo Formato Que A barriga fica no período da Gestação.

 Os Homens têm como figuras as Experiências vividas ou habilidades desenvolvidas, que ganham notoriedade perante os outros membros das comunidades e até gera uma certa influência na hora de construir sua Família.

 A Tonalidade Preta, que São Feitas de Carvão e Mel de Abelha (Para Cerimônias de Pouca Duração) ou do Sumo Do Jenipapo verde que demora mais dias para sair completamente da pele, Representa a Noite (Ou invisibilidade) Por ser uma vantagem nas Lutas Noturnas. E o branco Do Tóa, Argila muito utilizada no tingimento de alguns Utensílios domésticos e No Corpo Representa a Paz e a Harmonia uma forma de demonstrar para os desconhecidos Que Eram amigos . Embora cada Etnia Tenha sua simbologia a Cultura Indígena em si Deriva da Relação e dos conhecimentos Naturais, Conhecimentos Esse que muitas vezes Foram Perdidos nas várias Lutas Pela Sobrevivência De Cada Povo.

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2 de fevereiro de 2014

Objeto do Canto

Maracá de cambuco.
 
Temos o maracá, instrumento de cuité que inicia o ritmo do canto, o búzio, uma trombeta de facheiro que marca a cadência do som, ambos elementos produzido segundo modelo cultural pelo artesão para esta finalidade musical. Cantar Toré começa até mesmo antes de nascer, porque a gestante com a criança no ventre passa ao filho as emoções para o futuro componente tribal. Após o nascimento, existe um Toré anunciando o novo membro da Tribo que receberá um nome e será reconhecido socialmente pelos parentes com uma dança. Portanto a música está presente em todo acontecimento constituindo o mundo cultural indígena sendo veículo expressivo e comunicativo.
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21 de outubro de 2012

Mundo circular Kariri-Xocó


Por Nhenety Kariri Xocó

Nós, indígenas Kariri-Xocó, do município de Porto Real do Colégio, em Alagoas, somos na realidade, um grupo de origem pluriétnica. Nossa formação vem da resistência dos Kariri, Aconã e Karapotó no século XVII, dos Tupinambá e Natu no século XVIII e dos Xocó no século XIX.

Nosso universo representa-se em forma de círculo. Nossa visão cultural é de um “Horizonte Circular”, de cor azul, com a Aldeia Kariri-Xocó no centro, a natureza ao redor e o Rio São Francisco passando pelo meio e completando o ecossistema.

Nossa aprendizagem é baseada em círculos evolutivos. Por exemplo, para ser um pescador, inicia-se a aprendizagem com a criança fazendo artefatos de pesca, construindo anzóis, redes e armadilhas. O pequeno índio torna-se assim, hábil pescador adulto, fechando o círculo da pesca. Para ser uma ceramista, a menina aprende com a mãe a arte de modelar o barro, as técnicas tradicionais de confeccionar potes e panelas e pintar os objetos. Mas a sua aprovação como ceramista é quando se torna adulta, dominando toda a arte e fechando, assim, o círculo da cerâmica. O território tradicional é sagrado para nosso povo e tudo é diferente em comparação a outros lugares: o Sol, a Lua, as estrelas, as nuvens, a chuva, as serras, tudo...

No passado, o homem branco fez muitas perguntas: - Qual o tamanho da terra? Qual o limite? Qual a forma do território - quadrado ou redondo? Qual o marco divisor?
E o índio respondeu: - O Sol nasce e se põe em nossas terras; a linha do horizonte é o limite, onde o céu se encontra com a terra, de forma circular porque o nosso mundo é redondo.

É que antigamente, nosso povo circulava por todo esse território, morando aqui e ali, acompanhando as caças e dando nomes aos lugares. Se um gavião cantasse no momento em que nossos ancestrais avistavam uma serra, logo davam o nome de “Serra do Gavião”. Se eles vissem uma onça entrar numa gruta durante a caçada, chamavam o local de “Gruta da Onça”. Uma lagoa com muitos jacarés denominavam “Lagoa do Jacaré”.
Nossa terra está toda registrada por nosso povo com nomes associados à fartura, alegrias e tristezas. Ela traz nossa cultura e o seu tamanho está de acordo com as nossas necessidades físicas, biológicas e culturais. A área de ocupação tribal não se limita à aldeia, ao lugar de habitação.

Nosso território vai muito além, incluindo áreas de roça, pesca, fruta, fontes de barro para cerâmica e onde estão as caças. O rio é sagrado porque lá vivem os piaus, as xiras, os mandins, os pitús, as tartarugas. A mesma importância tem o lugar onde moram as abelhas, as araras, os macacos, as antas, as cutias, os porcos-do-mato. Os ninhos de aves e pássaros são locais importantes para nossa cultura pela necessidade das penas para os cocares. Os canteiros naturais onde encontramos a macambira, por exemplo, são vitais por serem bancos de ervas medicinais para o nosso povo.

Florestas, lagoas, várzeas, brejos, ilhas, enfim, todos os lugares são especiais. A natureza sempre organizou o território tribal e assim, deveríamos seguir a evolução natural.
Mas tivemos que resistir à muita violência. Antes do contato com os brancos, o Território Indígena Tradicional Kariri-Xocó abrangia 3.017 Km², o que ocupava as duas margens do Rio Opara (nome indígena do Rio São Francisco) e se mantinha como um círculo no horizonte, onde a terra se encontrava com o céu, com o Rio, com a floresta atlântica, a mata de caatinga, lagoas e várzeas.

Nosso território físico atual nos oprime, mas um território maior e mais rico ainda está vivo em nossa memória. Com fé e luta, recuperaremos nossas terras


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